sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sessão da Tarde Pretensiosa

“A moral é uma questão de tempo”, realmente não sabemos se a frase do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez se adequa inteiramente ao filme, ”O Diabo Veste Prada”(Dir:David Frankel-,EUA,2006).Entretanto esse é um dos temas centrais do filme de Frankel.Que tinha tudo para ser mais uma historinha burocrática de Cinderela produzida por Hollywood.O filme coloca questões de muita complexidade,estando bem acima da média atual.Ao contar a história de uma aspirante a jornalista que muda sua vida para entrar em um mundo que é o oposto ao seu.O emprego conseguido por Andy em uma das revistas de moda mais importantes do mundo,é no primeiro momento esnobado por ela,mas não demora muito para ela começar a se envolver com aquela nova realidade que a cerca.Ela é seduzida aparentemente por sua chefe,a poderosa editora que causa medo em todos.

O filme consegue explorar magistralmente o processo de mudança da personagem central,no caso ela passa por uma espécie de aculturação.É engolida por aquilo que negava.O distanciamento crítico que tinha no inicio se transforma em um desejo que passa para o espectador uma certa obscuridade.A complexidade que contraria a simplificação reinante é o grande mérito do filme.Em toda a projeção é impossível de definir mocinhos e bandidos,mesmo com a personagem de Meryl Steep.A jovem jornalista que ostenta em seu currículo uma reportagem sobre um sindicato,maior símbolo de utopia derrotada o diretor não conseguiria encontrar para representar o idealismo que se dilui entre bolsas e sapatos de luxo.A moça sem preocupação com a aparência, rende-se a ostentação de um ciclo de pessoas que vivem por ela.Podemos dizer que ela abandona o comportamento/costumes de seu grupo inicial para se filiar em um grupo que age de forma antagônica .A sedução ocorre em um primeiro momento para provar que ela consegue estar a altura daquilo que é exigido,entretanto ela não consegue fugir da obsessão que toma conta dela.O conflito maior chega quando ela já não consegue identificar mais qual é o seu grupo.

A crise esta em não saber se faz parte do mundo frívolo da moda ou do cheio de princípios que pertencia.As dúvidas que aparecem colocam na berlinda tudo que era certo antes.O antigo ciclo de amizades começa a questionar suas mudanças ,colocando em evidencia todos os problemas.Essa situação expõe uma grande questão humana, a obrigatoriedade de se adequar a uma realidade fechada culturalmente,a ambigüidade gera grandes problemas.É como imaginar um socialista ortodoxo se transformando em gerente de uma Multinacional,ou um Ultra-Direitista que se filia a um partido de esquerda.O choque é natural.No caso do filme, há uma questão econômica mais forte,a necessidade de trabalhar.A convivência obrigatória traz o choque que se transforma em dúvidas.O questionamento do seu modo de vida é evidente.A mudança de aparência é apenas a ponta do iceberg.Existe naquele momento um clara dúvida sobre os valores que ela defendia antes.

A grande pergunta trazida pelo filme é: Até onde conseguimos levar coerentemente nossos princípios?Será que estamos ilesos de contrariar aquilo que defendemos por “tentações” maiores. Ou somos vulneráveis aos “diabos” que podem aparecer em nossas vidas.O interessante disso tudo é que esses valores são estabelecidos pelos grupos.Sendo assim,somos nós que decidimos qual é o lado negro da força.Mostrando que o BEM E O MAL podem ser extremamente relativos.



no próximo post conto a história deste texto.....................



chegamos para ficar!

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